fonte: Blog Ricardo Young
Publicado 23/fev às 09:50
Publicado 23/fev às 09:50
Não se fala em mobilidade urbana sem se repensar o uso das bicicletas como meio de transporte. Barata, não-poluente e saudável, ela é indispensável à fórmula da mobilidade, além de grande aliada da principal solução, que é o transporte público. Esse recado a gente já conhece. Mas ele não estaria tão claro se não houvesse milhares de jovens agindo politicamente em prol da bicicleta.
Sim, esse movimento é politizado. E pode responder aos que consideram “alienada” a atual geração de jovens. Normalmente esse pensamento nasce da comparação com a geração que lutou pelo fim da ditadura no Brasil. No entanto, uma pesquisa (www.osonhobrasileiro.com.br) divulgada no ano passado, encabeçada pela agência de pesquisas Box e Datafolha, revelou que os jovens brasileiros encontraram formas diferentes de fazer política. E a bicicletada é um dos exemplos de sucesso.
A única bandeira do movimento é a defesa da bicicleta. Daí decorrem todos os outros princípios: mais saúde e qualidade de vida para uma sociedade que está mais sedentária do que nunca; menos impacto no meio ambiente, já que a bicicleta é veículo livre de emissões de gases poluentes, ao contrário dos motorizados; mobilidade, já que o veículo é pequeno e poderia tomar as ruas sem causar tanto congestionamento; economia, afinal, é de baixo custo e acessível ao bolso da maioria da população.
Com essa transversalidade de princípios, o cicloativismo só poderia empenhar ações também transversais e integradas. A bicicletada é apenas a ponta do iceberg se lembrarmos que os cicloativistas também promovem atividades de sensibilização da sociedade, com inserção de oficinas e palestras em diversos eventos e também pelo cyberativismo; permanecem atentos às medidas das empresas municipais de trânsito em relação à bicicleta e constantemente pedem reuniões com essas empresas, enviam relatórios sobre problemas e propostas para a mobilidade urbana em suas cidades e ainda elaboram projetos para criação de condições mais favoráveis ao uso da bicicleta. Para tanta discussão e proposição, uma regra básica é seguida entre esses jovens: horizontalidade.
Não há líderes, estatutos, siglas. Esse é o modo que os jovens encontraram para acreditar em um fazer político. Essa geração, conforme a pesquisa citada lá em cima, não acredita em grandes heróis que sacrificaram sua vida pessoal em prol de um ideal maior. Os heróis dessa geração estão no seu dia-a-dia. Pode ser o motorista do ônibus que leva uma rotina sofrida, ou a mãe que lhe deu de tudo, ou aquele amigo que conquistou seu sonho.
Esses jovens acreditam que seu bem-estar individual conflui com o bem-estar social. Por isso, apostam em “microrrevoluções”: cada um fazendo um pouco pelo que há à sua volta. Somadas, essas pequenas atitudes podem dar corpo a uma transformação não-armada, não-conduzida. Talvez justamente porque o que não é conduzido não pode ser desviado.
Sem nenhuma armação para alcançar o mundo todo, a ideia da bicicletada começou lá em 1992, na cidade norte-americana de San Francisco. Chegou em 2002 a São Paulo e Florianópolis. Era a primeira vez que a bicicleta virava notícia não como objeto para esporte ou passeio, mas como veículo de transporte.
Centenas de pessoas fizeram a bicicleta voltar às notícias, em várias cidades do país no fim de janeiro. Quase 200 pessoas se reuniram na praça do ciclista, em São Paulo, mesmo debaixo de chuva. No Recife, a bicicletada se juntou aos movimentos de protesto contra o aumento do preço das passagens de ônibus. Em Curitiba, aconteceu no sábado a Bicicletada da Fita Métrica, na qual os ciclistas aproveitaram o evento, que mistura passeio com manifestação, para conferir a largura das ciclovias recém-implantadas na cidade. Em Aracaju o movimento já seguiu em ritmo de carnaval e os ciclistas pedalaram usando fantasias. Em Porto Alegre, mais de 200 ativistas se reuniram para a bicicletada que, desde aquele atropelamento em massa ocorrido há quase um ano, conta com viaturas policiais acompanhando o trajeto. Manaus, Maceió e outras 400 cidades pelo mundo pedalaram na última sexta-feira de janeiro.
Além da esperança de cidades mais ágeis do ponto de vista do transporte, e mais sustentáveis, do ponto de vista das ideias, esses jovens nos dão a esperança de que o fazer político seja diferente do que predomina hoje. Sobre menos rodas e menos velocidade, o cicloativismo nos dá pistas de que um novo fazer político deve ser mais horizontal, criativo, ousado e, claro, virulento.
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